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Edifícios verdes e inteligentes.

Construções modernas adotam alumínio em projetos arrojados.

Durabilidade, resistência mecânica, leveza, facilidade de manutenção, maleabilidade, design e boa aparência. Às já consagradas qualidades do alumínio na construção civil, uma outra pode ser acrescentada: sustentabilidade. Os motivos são vários: além de poder ser reaproveitado e reciclado, o alumínio está presente em diversas soluções inteligentes das chamadas construções verdes e é cada vez mais utilizado nas obras por quem busca obter uma certificação internacional de arquitetura sustentável.


As construções verdes ainda são novidade no Brasil, mas já existem muitos exemplos nos Estados Unidos e na Europa. Aqui, ainda predomina nas obras a adoção de soluções sustentáveis isoladas como painéis de energia solar, racionalização e reutilização da água e separação de lixo. No entanto, o próprio mercado está exigindo que as edificações sejam cada vez mais ecológicas, seja por conta do aumento da preocupação da sociedade com as alterações ambientais produzidas pelo homem, seja pela necessidade de economia com manutenção e maior conforto dos usuários da construção.

Uma das maiores preocupações da arquitetura sustentável é a escolha dos materiais utilizados nas obras. “É preciso levar em consideração o ciclo de vida do material construtivo, que é a possibilidade de desmontar e reutilizar mantendo as características do produto e suprimindo a necessidade de produção de materiais novos. O alumínio, apesar de ser um material que tem uma energia embutida alta (consome muita energia no processo de produção), tem uma vida útil formidável, portanto é sustentável”, explica Roberta Kronka Mülfarth, pesquisadora do Departamento de Tecnologia da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP).

A vida útil média de produtos de alumínio para construção civil é superior a 40 anos (muito maior que a do aço, de cerca de 15 anos, por exemplo). Exemplos de durabilidade do alumínio são as telhas do Ginásio do Ibirapuera, que já têm mais de 45 anos, e do Parque do Anhembi, mais de 35 anos. Elas continuam intactas, resistentes e com boa aparência e ainda não precisaram ser substituídas por telhas novas.
“O alumínio é um dos materiais mais sustentáveis no mundo, com cerca de 73% de todo o material produzido ainda em uso”, resume Sara Gusmão Ferreira, arquiteta com MBA em gestão e tecnologias ambientais.

Certificação internacional
O critério de sustentabilidade de uma construção está ganhando cada vez mais notoriedade e as empresas buscam certificações para ter reconhecimento do mercado.
No Brasil, os interessados em tornar sua obra uma “construção verde” já estão recorrendo à mais reconhecida certificação internacional, o LEED (sigla de Leadership in Energy and Environmental Design).

Desenvolvido pelo U.S. Green Building Council (USGBC), o LEED propõe uma aproximação entre os projetos arquitetônicos e o conceito da sustentabilidade por meio de cinco pontos: desenvolvimento sustentável do entorno, economia de água, eficiência energética, seleção adequada de materiais não nocivos ao meio ambiente e conforto para os usuários da edificação. O alumínio é um recurso talhado para satisfazer os três últimos requisitos. Por isso, construções que buscam a certificação LEED dão diversas utilidades para esse metal em suas obras.
O edifício mais sustentável do mundo (segundo os critérios do LEED) está sendo construído em Nova York: a nova sede do Bank of America, que deve ficar pronto em 2008.

O projeto, que custará US$ 1 bilhão, usa vidro, aço e alumínio reciclados de construções recentemente demolidas – materiais que poderão ser reciclados novamente – ao longo dos seus 54 andares e 365 metros. Portanto, o Bank of America será reciclado e reciclável: a primeira obra a receber a classificação máxima no LEED.

Chicago também tem diversos exemplos de grandes construções verdes. Um deles é o 111 South Wacker Drive, que usou mais de 450 toneladas de alumínio no revestimento das fachadas, nas esquadrias, nos cabos de elevador e nos sistemas de iluminação do teto. Na fachada do edifício de 53 andares, o alumínio recebeu acabamento para barrar a entrada de calor, evitando, assim, o consumo elevado de ar condicionado. O alumínio também reveste os cabos dos 24 elevadores, por ser um metal mais leve e com a mesma força e resistência para suportar peso. “Sustentabilidade é agora um investimento de escolha, e as construções verdes dão um excepcional retorno nos investimentos”, avaliou Steven Nilles, diretor do escritório de arquitetura que projetou o 111 S. Wacker, em entrevista ao Aluminum Extrusion Council (AEC).

Em todo o mundo, existem 1.969 projetos certificados pelo LEED. Apenas um deles está na América Latina: a agência do Banco Real da Granja Viana, em Cotia, município vizinho a São Paulo, que recebeu o certificado em junho deste ano. Mas diversos outros empreendimentos brasileiros já mandaram documentações para os Estados Unidos para conquistar a marca LEED em suas construções.

No Brasil, a empresa Sustentax presta consultoria para a certificação LEED. “Está crescendo muito o interesse das empresas em materializar o que estão fazendo na área da responsabilidade social corporativa. A materialização tem sido muito difícil e é exigência do mercado. Uma das formas de materialização é implementar greenbuilds nos edifícios-sede, onde a empresa tenha visibilidade”, explica Paola Figueiredo, diretora da Sustentax.
Anderson Oba, gerente de produtos da Alcoa, acredita que a busca por certificação fará aumentar ainda mais o uso do alumínio: “Com o advento do LEED, se mais obras se interessarem a se certificar, a exigência de alumínio vai ser cada vez maior porque ele tem muitas vantagens em relação a outros metais e materiais.”

Soluções sustentáveis
Em primeiro lugar, as edificações revestidas por alumínio ou por vidro e esquadrias do metal podem ser construídas a seco, causando menos impacto ambiental. Ou seja, apenas são montadas no local, trazendo rapidez à construção e menor desperdício de materiais (sem gasto de água para produção de cimento, por exemplo).

Além de proporcionarem uma construção limpa, painéis de alumínio são uma escolha sustentável para o revestimento de fachadas e comunicação visual, se puderem ser reciclados. Existem no mercado basicamente duas opções de painéis: sólidos, formados por 100% de alumínio, e compostos, conhecidos por ACM (Aluminum Composite Material).

O Conselho Regional dos Químicos e o Hospital Beneficência Portuguesa, ambos em São Paulo, são exemplos de grandes construções que usam painéis 100% de alumínio em seu revestimento. “O Hospital Beneficência Portuguesa tinha um conceito de obra que buscava aliar produtos mais convencionais com a idéia de preservação do meio ambiente. Por isso, lá foram utilizadas chapas de alumínio com uma pintura especial. Elas foram produzidas curvadas e fixadas numa estrutura própria também de alumínio”, explica o engenheiro Arimatéia Nonatto, gerente de desenvolvimento de produtos da Belmetal, empresa que fez a fachada da construção. “A preocupação ambiental está começando na arquitetura de hospitais e encontra-se bastante presente no Beneficência, principalmente na economia de energia e água e na otimização da transmissão térmica para dentro do edifício”, diz Augusto Guelli, da Bross Arquitetura e Consultoria, autora do projeto do Beneficência.

As fachadas de vidro sustentadas por esquadrias de alumínio também são opções sustentáveis, devido às inovações tecnológicas que minimizam a entrada de calor e, assim, gastos excessivos com energia elétrica para manter o ar-condicionado. Os vidros podem tanto ser refletivos quanto ter aplicações de películas especiais que vedam a passagem de calor, mas permitem a entrada de luminosidade – atualmente as películas já estão bastante desenvolvidas e chegam a ter transparência de 60% e reter 97% dos raios infravermelhos.

“Projetos com fachadas de vidro precisam trabalhar duas questões: com o vidro, a luz natural é muito boa e a pessoa não se sente enclausurada, proporcionando conforto. Mas ao mesmo tempo deixa entrar carga térmica. Por isso, é preciso trabalhar a carga térmica com inovações tecnológicas. Ao diminuir a carga térmica, você não vai precisar comprar um ar-condicionado mais potente e caro, e pode gastar mais na construção sustentável, como nas películas para os vidros. É uma balança”, fala Paola, da Sustentax.

As esquadrias também podem receber tratamento termoacústico. Além disso, elas precisam ter um sistema de vedação de alto desempenho para evitar trocas de calor com o exterior. As linhas de esquadrias unitizadas, usadas em grandes edifícios como os paulistas Bank Boston (na Avenida Berrini) e Hotel Hyatt (na Avenida das Nações Unidas), são bons exemplos de eficiência na vedação.

O novo prédio da Rede Globo em São Paulo exemplifica o tratamento de materiais para aumentar a sustentabilidade da construção. “Nossa equipe trabalhou em conjunto com os projetistas de ar condicionado, acústica, esquadrias, vidros e persianas, ponderando os fatores estéticos e econômicos para criar ambientes agradáveis. Foram utilizados vidros de alta performance, refletivos com espessura de 10 milímetros para minimizar a radiação solar e atenuar os ruídos provocados pelo alto movimento de veículos na Avenida das Nações Unidas. As esquadrias de alumínio também receberam tratamento acústico”, explica Beatriz Ometto Moreno, diretora da KOM Arquitetura e Planejamento, responsável pela obra.

O projeto da Pfizer em São Paulo, premiado internacionalmente por seu design e suas soluções inteligentes para economia de energia (controladas por softwares próprios), também se valeu do alumínio. “A idéia foi usar o mínimo possível de materiais não certificados. A arquitetura do prédio optou por usar alumínio e aço em vez de materiais oriundos de desmatamento e agressões ambientais”, conta o engenheiro José de Rezende, do escritório de arquitetura Ebepro, que desenhou o edifício.

Uma outra inovação tecnológica de vidros e esquadrias, ainda não usada no Brasil, mas bastante conhecida na Europa, é a fachada fotovoltaica, que funciona como uma miniestação de energia solar. Ela capta e tranforma energia solar em energia elétrica por meio de células fotovoltaicas instaladas nos vidros e a transmite por fios instalados no interior dos perfis de alumínio até baterias de armazenamento.
Não bastasse tudo isso, o alumínio ainda está presente em outras soluções inteligentes das construções verdes, como nos painéis de energia solar (em componentes como placas, aletas de captação, caixas externas e serpentinas), em divisórias, móveis, persianas e brises.

Reutilização e reciclagem
A simplicidade do processo de reciclagem é um dos maiores fatores de sustentabilidade do alumínio. Atualmente, 38% do consumo doméstico de alumínio no Brasil é reciclado, segundo a Associação Brasileira do Alumínio (Abal). A lista de materiais de alumínio que podem passar pela reciclagem é extensa: esquadrias e caixilhos, painéis de revestimento, dutos de ar condicionado, persianas, divisórias e móveis.
A reciclagem do alumínio representa uma economia de 95% na energia elétrica em relação à energia gasta para produção de alumínio primário. “Com infinitos processos de reciclagem, o alumínio não perde suas características”, explica Antônio Carlos Cruz, pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas da USP.

Roberta Kronka Mülfarth, da FAU, alerta, contudo, que antes da reciclagem está a reutilização, propriedade do alumínio igualmente importante. “No Brasil, fala-se muito de reciclagem, mas a primeira opção é a reutilização Em um prédio novo, posso reutilizar vigas e esquadrias antigas de alumínio. Aqui ainda não se faz isso, até por uma questão cultural, afinal existe muito preconceito contra a utilização de materiais que não sejam novos. Mas na Europa se faz bastante. A Holanda, por exemplo, tem um mercado muito significativo de desmontagem de materiais de construção. Se a edificação for constituída levando a reutilização em consideração, pode-se facilmente reutilizar grande parte (do alumínio usado na obra)”, explica a pesquisadora.

Fonte: www.revistaaluminio.com.br